Overlord (2018) - Crítica SPOILER-FREE
/Realização: Julius Avery
Argumento: Mark L. Smith, Billy Ray
Elenco: Jovan Adepo, Wyatt Russell, Mathilde Ollivier, Pilou Asbaek, John Magaro, Iain De Caestecker, Jacob Anderson, Dominic Applewhite
Duração: 109 min
Com apenas horas até ao D-day, uma equipa de para-quedistas americanos aterram numa França ocupada pelos nazis, para realizar uma missão que é crucial para o sucesso da invasão. Encarregues de destruir um transmissor de rádio no topo de uma igreja fortificada, os soldados desesperados unem forças com um jovem aldeão francês para penetrar as muralhas e derrubar a torre.
No entanto, num misterioso laboratório nazista sob a igreja, os soldados encontram-se em desvantagem frente aos seus inimigos, diferentes de todos que o mundo já viu. Do produtor J.J. Abrams, Overlord certamente oferece grandes expetativas ...
Antes de escrever o que quer que seja: não se atrevam a perder este filme! Nunca esperei ser tão entretido e estar constantemente cativado, como me senti ao longo deste filme. J.J. Abrams tem uma capacidade de produção enorme e Overlord é prova disso. Incorpora todos os géneros que se consigam lembrar num processo quase perfeito. Vou começar pelo início, visto que os primeiros 20 a 30 minutos proporcionam uma das melhores sequências de abertura dos últimos anos.
Overlord é, sem dúvida, um filme de guerra e as suas bases são, na verdade, baseadas em histórias verdadeiras da WWII. Obviamente, sendo J.J. Abrams um mestre de ficção-científica (sci-fi), ele sabe esticar suficientemente essas histórias para que possamos ter uma montanha-russa de géneros absolutamente brilhante. Mistério, thriller, horror, sci-fi, drama, comédia, guerra, ação, ... Todos os géneros vos venham à memória (vá, musical não conta) estão presentes neste filme, uns mais que outros.
Geralmente, isso não é um bom sinal, pois já é extremamente difícil equilibrar dois/três tons ou géneros, quanto mais um monte deles. Dito isto, Julius Avery é um realizador incrível! Ele e a sua equipa de argumentistas foram capazes de misturar tudo e ainda conseguir um filme coeso e mesmo claustrofóbico, já que é praticamente situado em apenas um local, após o primeiro ato. Vamos, então, género a género...
Guerra: melhor representação visual e SONORA de uma guerra desde Dunkirk. Assisti em IMAX e o design de som é fenomenal. Consegui sentir cada bala a ser disparada e o CGI chega a ser eyegasmic. A cena de abertura com os aviões militares sobrevoando o campo de batalha é de deixar os olhos a brilhar e o score eleva a tensão devido a ser extremamente poderoso. Arrepios pelo corpo todo!
Sci-Fi/Mistério/Thriller: apesar da premissa explicar praticamente o que os nazistas estão a fazer nas suas experiências médicas, a forma com que Mark L. Smith e Billy Ray estruturam a narrativa do filme e escreveram os diálogos é , no mínimo, notável. Todas as cenas de exposição parecem naturais e incrivelmente ricas numa perspetiva de storytelling. Não melhora o mistério em si, mas ajuda a audiência a navegar melhor pela história.
Horror: depende muito de jump scares previsíveis mas eficientes, ao passo que os "monstros" são muito bem criados. Com uma mistura de CGI e maquilhagem, cada cena envolvendo estas experiências humanas é de deixar as unhas bem roídas. Quer seja uma sequência de perseguição ou luta, ou simplesmente um momento de suspense onde nem podemos ver todo o corpo humano, o clima de terror é excelentemente implementado.
Comédia: um filme tão pesado e sangrento, precisa de algum tipo de alívio. Comédia não é exatamente um género predominante, mas a personagem de John Magaro exerce um papel importante. Provavelmente, já estão a pensar "bah, ele é apenas uma personagem apenas de comic relief sem qualquer desenvolvimento decente", mas estão enganados. Tibbet é extremamente bem desenvolvido! Ele simplesmente tem uma personalidade engraçada e dá origem a muitas piadas, mas ao longo do filme, ele continua a evoluir enquanto personagem e surpreende-nos, finalmente, no terceiro ato. Também adorei Iain De Caestecker (Chase) e felicito-o por conseguir ganhar um papel num grande filme!
Drama: Jovan Adepo (Boyce), Wyatt Russell (Ford) e Mathilde Ollivier (Chloe) são os protagonistas do filme. São eles que carregam a maior parte da história. Adepo é o principal e ele é fantástico, bem como os seus dois colegas. No entanto, é devido aos scripts incríveis das personagens que eles conseguem brilhar. Todas as personagens do filme (bem, exceto os nazis, obviamente) têm um script inteligente que faz com que a audiência se importe com elas.
Todas as mortes têm impacto, ou na audiência ou nas outras personagens. Há imensos dilemas éticos durante a missão e estes três estão sempre a argumentar uns com os outros qual a melhor decisão, visto que todos pensam de forma diferente. Os diálogos são muito cativantes e melhoram, sem dúvida, o guião. Raramente pestanejei devido ao elevado nível de entretenimento e entusiasmo. Relativamente à história e às personagens, este é um dos melhores que 2018 nos trouxe. Puro entretenimento e personagens bem escritas? Contem comigo!
No entanto, não termina aqui. Tecnicamente, este filme é impressionante e magnífico. O meu coração ficou a bater violentamente após a sequência de abertura (já repeti o suficiente?). O score é intensamente poderoso, a cinematografia é impecável e os efeitos visuais são de outro mundo. As cenas de ação (perseguições e lutas) são tão realistas que é possível sentir cada soco, pontapé, tiro e explosão como se estivessemos lá.
Julius Avery trabalha com a câmera de forma alucinante. Mesmo com algumas cenas a possuirem uma quantidade pesada de CGI, ele ainda consegue produzir algumas maravilhas de apenas um take. Desde Boyce a saltar do avião até ele a fugir de explosões aproximando-se cada vez mais, Avery conhece bem a arte de filmmaking. Eu queria tanto dar um A+, mas não posso. Existe um pequeno problema que não posso simplesmente ignorar.
Eu escrevi acima que misturam cada género de forma QUASE perfeita... A meio do segundo ato, notei que este filme não ia conseguir escapar ao facto de que tenta abordar muitos géneros e, tonalmente, carece de um pouco de equilíbrio. De um primeiro ato intenso para uma história mais lenta e dramática é um grande passo atrás, a nível de entretenimento. Mesmo quando a ação retorna, é um tipo de ação de guerra totalmente diferente daquele vivido minutos antes. Ao longo do filme, senti sempre querendo um pouco mais "daquilo" quando havia muito "disto" e um pouco "disto" quando havia muito "daquilo". Perdoem-me a explicação vaga, mas há que evitar spoilers.
No final, Overlord é um dos meus filmes favoritos de 2018 e vai tornar a minha vida difícil no final do ano, quando estiver a organizar o meu Top10. É uma história brilhantemente estruturada, cheia de personagens extremamente bem desenvolvidas e um elenco fenomenal, liderado por Jovan Adepo. Julius Avery oferece uma montanha-russa cativante e intensa de um misto géneros e tons, entregando um filme com níveis muito diferentes de entretenimento devido aos muitos estilos presentes. O filmmaking em exposição é mind-blowing e a produção de J.J. Abrams é visualmente deslumbrante, no mínimo. Vejam em IMAX, para poderem sentir o quão poderoso e intenso é o design de som. Ficarão cativados desde o primeiro até ao último segundo. Aproveitem!