Halloween (2018) - Crítica SPOILER-FREE

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Realização: David Gordon Green

Argumento: David Gordon Green, Danny McBride, Jeff Fradley

Elenco: Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Andi Matichak, Will Patton, Virginia Gardner, Nick Castle

Duração: 109 min

Jamie Lee Curtis retorna ao seu papel icónico como Laurie Strode para o confronto final com Michael Myers, o homem mascarado que a tem assombrado desde que ela escapou à sua tentativa de homicídio na noite de Halloween há quatro décadas atrás.

Podem ler a minha crítica spoiler-free do original aqui: Halloween (1978).

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As minhas expetativas para esta sequela estavam ligeiramente elevadas. Jamie Lee Curtis voltar à franchise para desempenhar o seu papel icónico como Laurie Strode, foi algo que agarrou a minha atenção rapidamente, bem como John Carpenter ajudar a produzir este filme. O original é um dos clássicos dos anos 70 e um dos filmes de horror mais influentes de todos os tempos, mas os lançamentos seguintes foram todos, pelo menos, algo desapontantes.

Esta versão de David Gordon Green tem os seus altos e baixos. Por cada aspeto que eu adore, há outro que eu desprezo. Sendo este o seu primeiro filme deste género, ele tenta prestar homenagem ao filme de 1978 sem retirar muito do mesmo, mas ocasionalmente parece uma repetição de uma cena que já vimos antes. No entanto, os momentos de nostalgia não parecem forçados. Ele é capaz de transmitir sempre alguma coisa sem que seja nostalgia só porque sim.

Jamie Lee Curtis é definitivamente o destaque e a maneira com que ela é capaz de incorporar Laurie, é magnífica. Ela tem uma prestação genuinamente credível (algo que foi a grande falha do original, as prestações do elenco) e Laurie é uma autêntica badass.  Adoro o arco que esta personagem passou por durante os 40 anos desde que conseguiu escapar a Michael Myers. Ela passou todo este período a preparar-se para o retorno de Myers e educou toda a sua família a estar igualmente pronta, criando problemas de relacionamento entre ela e as pessoas com que mais se preocupa .

Esta é a melhor parte do guião, mas infelizmente, não se torna o foco principal devido a decisões pobres relativas à história. O reencontro de Michael e Laurie tem um build-up extremamente bem conseguido, mas à custa de alguns subplots sem nexo e personagens secundárias que em nada afetam a história. A sua neta, Allyson (Andy Matichak), tem um subplot romântico típico de escola secundária que não tem qualquer propósito. Além disso, algumas personagens que só funcionam como objetos de exposição para lembrar a todos o que aconteceu no original, também possuem demasiado tempo de écrã e não têm um impacto significativo na história, a não ser uma cena onde a audiência pode finalmente ver Michael matar alguém.

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Escrevi "finalmente" porque este filme demora a começar e o seu tom não está bem definido. O primeiro ato é praticamente um resumo do que aconteceu há 40 anos e o script é pesado no que toca a exposição preguiçosa. Quando o tom e a atmosfera começam a entrar nos eixos, são contrabalançados através de comédia desnecessária. Algumas piadas dão para ouvir e esquecer, mas algumas saem incrivelmente forçadas e desequilibram o tom.

No entanto, mesmo com todos estes problemas, David Gordon Green é capaz de proporcionar algumas cenas fantásticas. O suspense e tensão, marcas do original, estão bem presentes. Existem inúmeras cenas com Michael a vaguear pelas casas, escondido atrás de portas e assustando todos os que vai encontrando, e estas são (na maior parte) muito bem realizadas. Não posso dizer que são assustadoras, mas se vão assistir a Halloween (2018) à espera de "borrarem a cueca", então não têm a mínima ideia do que é um filme da saga Halloween.

Nunca foi sobre os jump scares ou as mortes sangrentas, apesar da classificação para M/18 (ou Rated-R, para quem se guiar pelas classificações internacionais) ser mais do que necessária para elevar as cenas mais violentas. A relação que Laurie e Michael criaram é o que me manteve interessado até ao final do filme porque eles são as duas personagens que realmente importam. Penso que acertaram em cheio com o final e fico super feliz que tenham mantido os traços caraterísticos da personalidade de Myers intactos.

Em relação ao elenco, é obviamente muito melhor do que o do original (se não fosse, seria um enorme fracasso). Mesmo não podendo ver a cara dele, Nick Castle voltar para representar The Shape é sempre um bónus. Além do desempenho brilhante de Jamie Lee Curtis, Judy Greer (Karen) e Will Patton (Officer Hawkins) destacam-se do resto com boas prestações. As suas personagens ainda têm tempo de écrã suficiente para oferecer uma boa cena aqui e ali, mas há uma personagem que considero o maior erro de tudo isto.

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Dr. Sartain (Haluk Bilginer) é suposto ser o novo Dr. Loomis (Donald Pleasence), psiquiatra de Michael. Até ao final do segundo ato, esta personagem é tão pouco importante quanto as outras secundárias: expõe muito sobre a história de Michael e fala sobre ele ser o mal encarnado, etc etc. No entanto, no início do terceiro ato, Green e os seus argumentistas tomam uma decisão relativa à personagem que eu sinceramente não entendo. Não vou spoilar nada, mas esta decisão sai definitivamente como forçada e muda por completo o rumo do filme.

Tecnicamente, é tão bom como expetável. Claramente, não pode ser comparado ao filme dos anos 70, mas tem obviamente alguns aspetos muito bons. O uso da iluminação para criar algumas cenas de suspense é excelente e o score de Carpenter é absolutamente inesquecível. Não só define a atmosfera como eleva a tensão acumulada até outro homicídio de Michael.

Poderia ter sido um filme incrível. Se tivessem descartado os subplots parvos e as personagens sem impacto, colocando o foco no reencontro de Laurie e Michael, então teríamos um filme fantástico. Normalmente, detesto quando realizadores começam os seus filmes com texto ou narração, mas neste caso, considerando que estão a lançar uma sequela 40 anos após o original, prefereria ouvir 30 segundos de narração ou desperdiçar um minuto lendo algum texto neste filme, explicando o que aconteceu no primeiro, do que ter que lidar com este tipo de personagens e as suas histórias estúpidas.

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Resumindo, Halloween (2018) tem tantos altos como baixos. Por cada aspeto que acertam, há outro que conseguem totalmente estragar. Jamie Lee Curtis é fenomenal como Laurie e o build-up gerado para o seu reencontro com Michael Myers agarra a audiência até ao final, no qual eu penso que David Gordon Green esteve impecável. Tecnicamente muito bom, é frustrante e um pouco desapontante que tantas outras falhas existam. Comédia desnecessária que desequilibra o tom do filme, além de demorar demasiado para definir a atmosfera certa. Personagens secundárias sem nexo que só servem como plot devices roubam muito tempo de écrã e as decisões de Green relativas ao guião mostram falta de discernimento e experiência no género. No geral, os meus positivos "ganham" aos meus negativos, mas apenas por um fio...