Venom (2018) - Crítica SPOILER-FREE
/Realização: Ruben Fleischer
Argumento: Scott Rosenberg, Jeff Pinkner, Kelly Marcel, Will Beall
Elenco: Tom Hardy, Michelle Williams, Riz Ahmed, Scott Haze, Reid Scott
Duração: 112 min
Uma das personagens mais enigmáticas, complexas e badass da Marvel finalmente chega ao grande écrã!
Quando Eddie Brock (Tom Hardy) adquire os poderes de um symbiote, ele terá que libertar o seu alter-ego Venom para salvar a sua vida.
Penso ser seguro e justo afirmar que Spider-Man 3 de Sam Raimi é o mais fraco da sua trilogia. Não só os dois primeiros filmes são, ainda hoje, considerados uns dos melhores filmes de comic-books a serem lançados, mas este último também não se esforçou muito para manter o alto nível de qualidade. Portanto, também tendo em conta os problemas de produção com Venom, as minhas expetativas estavam bastante moderadas.
Infelizmente, no mundo de hoje, um filme não é bom ou mau porque é simplesmente bom ou mau. Tem sempre de existir uma desculpa para cada um destes casos, principalmente se estivermos a discutir um filme pertencente a uma grande franchise. Sendo Venom um filme de super-heróis, obviamente, não há um "meio termo", ou se adora ou se odeia. Normalmente, se apenas acharmos "okay", somos uma anomalia. Desta vez, isso não me incomodou tanto quanto a próxima notícia que tomou proporções ridículas...
Como todos os fanboys têm que defender a sua produção favorita, a desculpa para as más críticas que Venom está a receber foi de que os fãs de Lady Gaga estavam a falar mal sobre este, visto que A Star Is Born também estreia esta semana. O quão incrivelmente estúpido e triste isto é?! Nem sequer é uma disputa DC x Marvel! A relutância que as pessoas têm em aceitar que um filme do seu universo/saga/whatever favorito pode ser fraco é desconcertante. Ainda mais quando este é, na verdade, um tédio autêntico, com um enredo genérico, personagens sem relevo que só servem como plot devices e uma edição extremamente horrível.
Há pontos positivos para escrever sobre, por isso vou começar com o destaque absoluto: Tom Hardy. Quando se tem um ator como ele e ouvimo-lo dizer "eles cortaram as minhas cenas favoritas", ninguém pode entrar no cinema com grandes expetativas. Ele incorpora de forma fantástica a personagem de Eddie Brock, originando imensas cenas onde ele claramente brilha. Da sua incrível gama de expressões para as emoções que ele é capaz de transmitir, Hardy é definitivamente o melhor que Venom tem para oferecer.
As interações entre Eddie e Venom são o aspeto mais cativante e entusiasmante do filme. Desde o bate-boca constante até ao método incomum de desenvolvimento das personagens, a sua relação é, de longe, a mais forte de todo o filme, o que acaba por se tornar um ponto negativo de outra perspetiva. Infelizmente, existem tantos subplots inúteis e personagens secundárias que não acrescentam nada ao plot principal ou ao protagonista. A primeira metade do filme não tem Venom em lado nenhum, o que não seria um problema se a história e as personagens fossem convincentes.
Enquanto Eddie tem, efetivamente, uma personalidade interessante, todas as outras personagens são ou um estereótipo clichê ou um plot device claro. Michelle Williams não tem uma boa performance como a mais-que-tudo de Eddie, Anne, que não tem qualquer desenvolvimento (eu genuinamente não consigo descrever a sua personalidade). Riz Ahmed, que eu adoro em outros trabalhos, tenta o seu melhor como Carlton Drake, um vilão sem profundidade que quer genericamente subir ao trono do poder e tudo o resto já sabem devido a cerca de 95% dos vilões que já passaram pelo grande écrã. Finalmente, há um grupo de cientistas que só servem como dispositivos de exposição, para fazer a ponte entre o filme e o público, explicando tudo explicitamente quando não há qualquer necessidade de o fazer.
A primeira metade do filme é muito, muito difícil de passar por. Como Venom está longe de ser encontrado, temos que lidar com estas personagens mencionadas acima, o que se torna tão incrivelmente monótono e aborrecido. A maioria das cenas cómicas não funcionam sem a voz de Venom para oferecer um take diferente às mesmas e Hardy encontra-se a tentar carregar tudo sozinho.
No entanto, o pior aspeto do filme é, sem dúvida, a edição. Não importa se é uma cena de ação ou um simples diálogo num restaurante, a edição é uma confusão total. Horrivelmente frustrante, para dizer a verdade. Se Ruben Fleischer não consegue orientar um simples diálogo sem ter que implementar um corte após cada linha do guião e trocando as posições originais das personagens, então ele não merece trabalhar num blockbuster como este.
As cenas de ação, enquanto algumas são realmente entusiasmantes (como a excelente sequência de perseguição de carro/mota e algumas lutas iniciais com alguns bad guys), a maioria delas estão cheias de cortes rápidos e movimentos de câmera desfocados devido ao uso de shaky-cam. A batalha final é tão underwhelming devido à impossibilidade em perceber a maioria do que está a ocorrer. Quando uma luta ocasional entre Venom e alguns bandidos é melhor do que o suposto clímax do filme, algo não está certo.
A classificação PG-13 claramente afetou o filme. Não só é totalmente percetível que algumas cenas foram cortadas porque não havia forma de reduzi-las tonalmente, mas a falta de sangue ou linguagem pesada é definitivamente uma contrariedade. A soundtrack é realmente muito boa e ajuda a revitalizar alguns momentos mais lentos. Visualmente, bons efeitos, especialmente o design de Venom. Tonalmente, o filme é bem equilibrado no geral, mesmo se Fleischer ocasionalmente perde o controlo aqui e ali. É como eu escrevi acima, ou se adora ou se odeia, certo? Errado. Não é um dos piores filmes do ano, mas também não considero um bom filme (longe disso).
Concluindo, Venom é mais uma oportunidade perdida para criar um grande filme sobre este anti-herói. Desta vez, a personagem de Eddie Brock é maravilhosamente escrita e Tom Hardy eleva-o tremendamente. As suas interações com Venom são a melhor parte do filme, mas infelizmente, os positivos terminam por aqui. O filme é arruinado por um enredo genérico que dura uma primeira metade incrivelmente aborrecida sem Venom, um foco desnecessário em subplots sem nexo e personagens clichê sem relevo, mais a chocantemente terrível edição que basicamente destrói qualquer tipo de entusiasmo que provém das sequências de ação. Peço desculpa, mas isto não é culpa da Lady Gaga, amigos. Os problemas durante a produção condenaram este filme a ser uma deceção. Resta aceitar e seguir em frente.